Carta 7: O sexo sempre começa fora da cama

15 de Setembro de 2019

Querido Cossa,

Ultimamente tens reclamado indirectamente da minha pouca disponibilidade para fazermos amor. E tens razão, nos últimos tempos não tenho tido vontade nem energia de fazer sexo contigo – o que não significa que não o faça comigo mesma.

Como tu sabes, para mim o sexo não acontece automaticamente. Raramente fico pronta num estalar dos dedos. Preciso e gosto de aquecimento. Falo das sugestões explícitas como as massagens, as carícias em determinadas partes do meu corpo, os beijinhos no pescoço, etc. Mas também das manifestações aleatórias de carinho, os momentos de cuidado mútuo e de auto-apreciação, e a ausência de crítica desnecessária.

Tu sabes que sem um ou vários destes elementos eu simplesmente não acendo. E, sabes também que a manutenção de qualquer relacionamento depende de as partes envolvidas prestarem mais atenção ao que gostam do que ao que não gostam uma na outra. A crítica construtiva, relacionada com coisas reais que dificultam o relacionamento e que podem ser melhoradas, são necessárias e bem vindas. Mas aquela crítica que responde ao estado de animo de quem critica, que só vê o que a outra pessoa faz de errado, só mina o relacionamento.

Por outro lado, quando não fazes a tua parte do compromisso que ambos assumimos nos cuidados das nossas crianças e da nossa casa, eu fico especialmente cansada e distante de ti. Me canso mais e mais facilmente não só porque acabo fazendo trabalhos que deveriam ser divididos por duas pessoas adultas; mas também porque é cansativo estar sempre alerta, roubar momentos para os rituais que me permitem estar emocionalmente bem para mim mesma e para ser o apoio que gostaria de ser para as nossas crianças, e é mais cansativo ainda estar a renegociar contigo, uma e outra vez, coisas que já concordamos.

Cada vez que sais do eixo do nosso compromisso com relação às tarefas reprodutivas e, quando tens uma semana daquelas, em que aprecias poucas coisas em mim e vês e falas mais do que eu faço mal – de onde é que achas que há-de vir a minha tesão, a vontade de fazer amor? Como é que hão-de acordar os sentidos que me permitirão desfrutar de tocar-nos, lamber-nos, beijar-nos? Até onde estou consciente, eu não sou uma máquina com um botão de ON e OFF que se pode ligar quando tu tens vontade de fazer sexo.

Portanto:
– Se queres me fazer uma crítica construtiva, de algo que achas que posso melhorar e que vai levar o nosso relacionamento à um nível superior, então por favor não te retraias.
– Ou, se queres renegociar a nossa distribuição das tarefas e responsabilidades porque achas que ela não é justa ou porque surgiram novas necessidades, adiante.

Mas:
– Se queres me criticar à toa porque estás a ter uma má semana e precisas descarregar em alguém,
– Ou não fazes o que tens que fazer por preguiça, machismo ou simplesmente negligencia,

Então fica preparado para receber o que dás e depois não dá abraços de tesão quando estás mais relaxado.

Cada coisa no seu momento. Se for tempo de estar em mode critica desnecessária ou preguiça ou cago-me em tudo, então entremos nesse mode, assumindo todas as possíveis consequências. E quando quisermos estar em mode façamos abundante amor, então vamos ambos fazer o necessário para estarmos nessa vibração.

Com amor,
Eu

Carta 5: As nossas férias são individuais ou colectivas?

Férias, amig@s, Parque de la Ciutadela, Barcelona, 2010

7 de Maio de 2019

Querido Cossa,

Gosto de programar as nossas férias contigo. Sempre tens muitas ideias de coisas que poderíamos fazer e isso faz com que eu entre no feeling das férias antes de as iniciar. Gosto!

Mas tenho a impressão que de certa forma continuas a programar as férias familiares como se fossem só para nós os dois, sem as crianças. Porém, por enquanto as nossas crianças ainda são muito pequenas e, não as deixamos com terceiras pessoas. Os teus planos têm dois itens estrela:

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