Eleições, bem estar e sexo

No dia 15 de Outubro de 2019 se realizarão as 6ªs eleições gerais de Moçambique. Nessas eleições se escolherá o presidente do país e a composição do parlamento. Por tanto, o nosso bem estar presente e futuro depende também dos resultados das eleições. E, por esse motivo acredito que deveríamos votar naquele partido e candidato presidencial com maior potencial de melhorar a qualidade da nossa vida sexual.

Somos seres sexuais e nesse sentido a qualidade da vida sexual tem um impacto brutal noutras áreas da nossa vida. Como por exemplo, na qualidade do descanso, na inspiração e criatividade, na saúde da pele, no humor, no exercício físico, no bem estar emocional, etc. A percepção de qualidade da vida sexual é relativa, porém penso que alguns elementos são centrais:

  • Potenciar orgasmos qualitativos – que nos fazem sentir que viajamos para além do imaginável;
  • Ser prazenteiro em todas as etapas;
  • Permitir recarregar energias e sentir-se nov@.

Acredito que cada pessoa é a principal responsável por como se sente e pela sua satisfação sexual. Contudo, vários elementos tanto estruturais como conjunturais afectam a nossa capacidade de desfrutar do sexo. E , nesse sentido deveríamos exigir que a liderança se comprometa a fazer alguma coisa a respeito.

Por exemplo:

  • Se sofro de fistula obstétrica por causa de complicações que tive durante o parto,
  • Se sinto-me insegura em caminhar nas ruas do meu bairro quando anoitece, quando chove não sei se a minha casa ficará alagada nem se conseguirei sair de casa,
  • Se tenho que ‘lutar’ para conseguir entrar no ‘chapa’ ou ‘my love’ para ir e regressar do trabalho (se é que tenho trabalho/ actividade económica),
  • Se vivo para trabalhar – preciso de tanto tempo para ir e regressar do trabalho, trabalho muitas horas e as vezes incluindo os fins de semana, que mal tenho tempo para desfrutar de mim mesma e das pessoas que amo,
  • Se trabalho tanto como uma formiga e ganho o correspondente ou menos do que os dirigentes do meu país gastam numa refeição num restaurante de moda em Maputo,
  • Se não posso continuar com os estudos porque só consegui lugar no turno da noite e algumas vizinhas que estudam e trabalham a noite foram violadas e tenho medo que me aconteça o mesmo,
  • Se não posso continuar com os estudos porque mesmo tendo conseguido uma das maiores notas na prova de acesso, não tenho dinheiro para comprar a vaga,
  • Se tenho que viver com um senhor que a sociedade diz ser meu marido que me violenta emocionalmente, sexualmente, económicamente e socialmente porque cada vez que lhe denuncio ele paga para sair da prisão e a família dele ameaça-me de me mandar embora da casa e me privar de ver a minha filha,
  • Se tenho que pagar para ter acesso à serviços de saúde básicos e especializados – para situações de urgência, enquanto os ditos dirigentes enriquecem os serviços de saúde de outros países, com dinheiro dos nossos impostos.

Nestas circunstâncias, dificilmente uma pessoa consegue relaxar o suficiente para desfrutar do sexo, para se explorar e conhecer melhor o que precisa para que o sexo lhe seja prazenteiro. E, as vezes o sexo acaba por ser uma actividade mecânica, para tentar ‘descarregar as frustrações’ da vida ou por ‘obrigação’ – nos casos de relacionamentos em que as mulheres têm que estar sempre sexualmente disponíveis para os parceiros.

E isso não pode ser!

Acho uma injustiça tremenda, e se calhar até deve ser pecado alguém estar privad@ de desfrutar de uma vida sexual prazenteira e de qualidade por ter que se preocupar com coisas que são facilmente solucionáveis havendo suficiente vontade política.

Por este motivo sugiro à todos os potenciais votantes e sobretudo as mulheres eleitoras (porque infelizmente são as que estão em maior representação na maioria das injustiças que prevalecem no nosso país) que leiam com lupa e escutem bem os manifestos políticos e os discursos de campanha dos partidos e candidatos à presidência para poderem votar naquele partido e candidato que melhor poderá contribuir para uma melhor qualidade da sua vida sexual (quer seja de forma individual ou acompanhad@).

Sugestões de perguntas a serem feitas no processo de decisão:

  1. As consequências das famosas dívidas ocultas e ilegítimas são conhecid@s por tod@s nós. Muitíssimo do nosso presente e futuro foi hipotecado por causa de governantes que vêem o governo como uma fonte inesgotável de dinheiro para usar ao seu belo prazer! Mas o leite já se entornou e agora precisamos ver ações concretas para (a) responsabilizar os que se beneficiaram para que sejam eles a pagar as dívidas, (b) para tornar essa dívida ilegítima e que não saia nem um tostão do orçamento do Estado para a pagar e (c) para consolidar os sistemas que garantam que esse desastre humano não volte a acontecer. Portanto quem melhor garante um plano concreto de combate à corrupção?
  2. Quem melhor garantirá a separação real dos poderes do Estado, para que o poder judicial (por exemplo a Procuradoria da República) tenha real autonomia do poder executivo (por exemplo, do Presidente da República)? Como?
  3. Quem utiliza linguagem inclusiva – vê as mulheres /fala com elas directamente ou as inclui no pacote de ‘homens’?
  4. Quem fala de fazer orçamentos baseados no género que podem olhar para as necessidades e prioridades diferentes de mulheres e homens?
  5. Quem tem estratégias claras para que mulheres e homens possam conciliar da melhor forma a vida familiar com a vida profissional
  6. Quem tem estratégias para garantir que os homens participem mais nas tarefas reprodutivas (trabalho doméstico, dos cuidados)?
  7. Que partidos têm listas zebra – que vão garantir oportunidades iguais para as mulheres e os homens conseguirem assentos no parlamento independentemente de quantos assentos o partido tenha conseguido? (significa que os nomes de mulheres e homens apareçam de forma alternada e consecutivamente nas listas dos partidos – por exemplo, 1. Joana, 2. Tendai, 3. Xiluva, 4. Tomás e assim sucessivamente).
  8. O que os partidos e candidatos dizem sobre eliminar as discriminações que as mulheres sofrem no acesso ao trabalho – assédio sexual, pergunta sobre se pretende ter filh@s, tecto de vidro que limita chegar aos postos mais altos, etc.?
  9. Como vai garantir maior implementação das leis que protegem as pessoas, especialmente as mulheres contra violência baseada no género, violência doméstica, violações sexuais?
  10. Como vão melhorar a segurança e o saneamento nos bairros suburbanos?
  11. Quem tem uma estratégia para plantar mais árvores nos bairros suburbanos e urbanos, como pensam gerir o lixo de forma sustentável, como pensam estimular a mudança de comportamentos com relação ao deitar se lixo em espaços públicos?
  12. Qual a estratégia para que haja uma maior humanização dos serviços de saúde, especialmente os ligados à saúde da mulher – atendimento digno focado nos desejos das mulheres, independentemente do status sócio-económico, instalações limpas, seguras e com material apropriado de trabalho?
  13. Qual a estratégia para garantir que o orçamento do estado dê mais prioridade à maioria dos cidadãos do que a minoria – pagar salários à professores, enfermeiros, médicos, etc. atempadamente no lugar de comprar carros de luxo por exemplo?
  14. Quem garante que poderemos ter acesso à alimentas com poucos químicos, à água potável, energia eléctrica, à preços razoáveis e adequados ao nível dos rendimentos da maioria das pessoas?
  15. Quem garante a criação de mais serviços de qualidade e a custos razoáveis de creche e outros cuidados das crianças para que mais pais e mães possam trabalhar fora de casa, se esse for o seu desejo?

Estas são só algumas ideias de assuntos que não são assim tão difíceis de se resolver e que se estivessem a ser abordados por quem de direito, nos permitiriam estar mais relaxad@s, usar mais a nossa criatividade para sermos produtiv@s e também felizes, sorrir mais – e isso, sem dúvida nos permitiria desfrutar mais do sexo e assim ter uma vida sexual de maior qualidade. Isso em si é um direito que deveria estar consagrado na nossa constituição.

Cada um/a sabe que outros aspectos precisa saber que constam dos manifestos dos partidos candidatos e das ideias dos candidatos à presidência, que lhe permitiriam relaxar o suficiente para poder desfrutar do sexo, como um direito e não como um privilégio.

Portanto, Vote certo – pensando no bem estar da sua vida sexual!

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